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SEM MEDO DE ERRAR
Como você pode ter percebido, falar sobre a área da Educação Física demanda muito mais do que a competência do saber fazer. Talvez esse seja o ponto inicial para sua conversa com os quase 200 alunos do último ano do ensino médio de escolas públicas e privadas que vão participar da Feira das Profissões, na qual você terá a oportunidade de explicar sobre a Educação Física, seus campos de intervenção e formação profissional.
Um ponto significativo é ressaltar o prazer que a prática da cultura motora e do movimento humano proporciona às pessoas, assim como seu público pôde vivenciar ao longo de toda sua educação básica. Pegar pelo ponto das experiências e vivências deles é fundamental para ir reconstruindo e ampliando seus olhares. Ao falar da prática você consegue destacar todos os avanços teórico-científicos na Educação Física e explicar que as aulas que eles vivenciaram, bem como as práticas físico-esportivas, de saúde e de lazer que realizam fora do contexto escolar, estão relacionadas a uma ampla base de conhecimentos historicamente produzidos pela área.
Nesse sentido, você já desconstrói a representação de que a Educação Física é só o “jogar”. Pode também demonstrar que esse avanço no campo profissional é fruto dos cursos de mestrado e doutorado, das pesquisas realizadas na área, que, portanto, tanto possuem uma dimensão profissional quanto acadêmica.
Na dimensão profissional, você consegue deixar claro as dimensões de formação em bacharelado e licenciatura, que são duas áreas que estão na base histórica da Educação Física, a qual, em seu processo de evolução na sociedade, no ensino superior, instituiu esses dois campos de intervenção, que possuem bases comuns de saberes, mas também competências e habilidades distintas. A licenciatura, já consolidada há muitos anos no âmbito escolar, e o bacharelado, principalmente como uma profissão liberal, estão relacionados às demandas da sociedade nas dimensões do esporte, do lazer, da saúde e das mais diversas áreas de atuação que envolvem a formação e a intervenção em Educação Física.
Avançando na prática
Educação Física: conhecimento teórico e prático
João Paulo é um profissional formado em licenciatura em Educação Física. Sua formação foi quase toda baseada nos princípios tecnicistas e na compreensão do corpo na sua perspectiva mecânica, fragmentada. Ele já atua em uma escola pública há mais de 5 anos, e basicamente seus conteúdos se resumem ao futsal, basquete, voleibol e handebol. No entanto, a escola passa por uma restruturação, e a equipe pedagógica passa a olhar para a prática profissional de João Paulo de modo crítico, apontando o desenvolvimento de atividades sem base teórica na intervenção, conhecimentos apenas esportivos de modo reprodutivo de gestualidade técnica, nem mesmo relacionando o esporte com outros aspectos da sociedade, como a educação, a economia, a política, a cultura. Diante desse contexto de conflito, João Paulo percebe que ele precisa mudar suas práticas didáticas para conseguir o espaço e respeitabilidade para a Educação Física e para ele, como professor e profissional. Nesse sentido, quais caminhos João Paulo poderia traçar para, de um modo processual, mudar sua prática pedagógica?
A Educação Física, enquanto disciplina pedagógica no contexto escolar, já é uma realidade. No entanto, ainda existe muita resistência por parte dos profissionais em realmente se lançarem no contexto educacional de modo a colocar em prática toda a base teórico-metodológica apreendida ao longo da formação em nível superior. Provavelmente, João Paulo, por insegurança natural provocada pelas mudanças, iniciou sua vida profissional reproduzindo práticas nas quais viveu enquanto aluno na educação básica.
Para superar essa realidade, ele precisa buscar se atualizar e rever seus conhecimentos apreendidos na formação inicial. As discussões pedagógicas na Educação Física brasileira a partir dos anos de 1980 possibilitam a ele toda uma base teórica de conhecimento para atuar. Assim, utilizando os saberes acadêmicos e científicos, juntamente com os pedagógicos e metodológicos, ele percebe que sua prática passa a ser ressignificada. O professor passa a abordar os conteúdos da Educação Física escolar em toda sua complexidade, relacionando os aspectos teóricos e práticos. Os alunos passam então a conhecer mais sobre os fenômenos da área e os conteúdos; compreendem que a Educação Física não é somente “jogar bola”. A imagem de João Paulo na escola, assim como da Educação Física, também é ressignificada como de grande relevância, alcançando seu devido espaço conquistado historicamente.