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Praticar para aprender
Escolas da educação básica, escolas de educação especial, clubes, academias de musculação e ginástica, clubes recreativos e esportivos, escolas de danças, escolas de natação, escolinhas esportivas (como futebol, voleibol, basquete, handebol, futsal, atletismo), projetos sociais, concurso em prefeituras e no estado, clínicas médicas, hospitais, escolas especiais, pesquisa, ensino, gestão, desenvolvimento de tecnologias, e por aí em diante: esses são alguns dos exemplos do mercado de trabalho da Educação Física, em suas mais diversas manifestações, como o esporte, a saúde, o lazer, a educação formal e não formal.
Essa amplitude do mercado de trabalho no setor nos deixa, por um lado, uma sensação de grandes chances de inserção, mas, por outro, também nos coloca diante da responsabilidade de uma formação acadêmica sólida para poder se manter no mercado de trabalho.
A sua atuação dentro da empresa Vida e Saúde vem sendo reconhecida e você passou a ser sócio da empresa. Com uma atuação já consolidada na área da atividade física e saúde, você, como empreendedor, busca novos campos de atuação. Com um trabalho aberto e atento ao mercado, a empresa consegue fechar uma parceria junto a uma equipe multidisciplinar de uma gigante nacional de planos de saúde. Com foco na prevenção, educação, preservação e reabilitação na saúde, essa equipe é formada por diversos profissionais, como médicos de diferentes especialidades, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas e outros profissionais da saúde que operam tanto no espaço intra-hospitalar quanto extra-hospitalar. Logo você percebe que o trabalho em equipes multidisciplinares é realmente um grande desafio profissional para você e para a empresa e que esse é um campo de atuação desafiador para a Educação Física. Mas você ainda apresenta uma grande vantagem frente aos seus colegas, pois em sua atuação na área escolar foi possível realizar alguns projetos e trabalho de natureza multidisciplinar com outros professores de outras disciplinas escolares. Diante desse cenário, a Educação Física precisa demonstrar sua importância e legitimidade social no campo da saúde, construindo sua imagem e reconhecimento profissional, conquistando novos espaços de trabalho.
O desenvolvimento de competências e a atenção e acompanhamento das demandas do mercado de trabalho são atitudes necessárias para poder enfrentar os desafios. Portanto, ao longo de sua formação, é bom você sempre realizar um mapeamento não somente dos seus interesses, mas de como está o mercado de trabalho na sua cidade, na sua região, a fim de realizar sua formação e sua inserção no mercado.
conceito-chave
Quando pensamos na relação entre Educação Física e mercado de trabalho, temos que levar em consideração que essa relação sempre foi mediada por diversos aspectos presentes no campo econômico e político que, juntamente com os embates e debates internos na área, vão constituindo os elementos que nos possibilitam um maior domínio dos conhecimentos interdependentes dentro de uma rede complexa. Ao olharmos para a contemporaneidade, podemos visualizar um mercado de trabalho que, em geral, requer diversas competências, habilidades e comportamentos que proporcionem uma maior empregabilidade e sustentabilidade da carreira profissional.
Como você pôde perceber ao longo desta unidade, uma área de formação profissional precisa estar atenta às novas demandas, mudanças e tendências do mercado, às alterações nas legislações e diretrizes de formação profissional – como visualizamos na nova diretriz de formação para a Educação Física, aprovada em 2018. Assim, tanto a Educação Física quanto o Estado e o próprio mercado de trabalho atuam e influenciam nas dimensões da formação e preparação para a vida profissional.
Não somos uma área alheia e desconexa das relações macro e microeconômicas e políticas que impactam a sociedade. Também não somos uma área estagnada, cristalizada. Passamos por diversas mudanças e (re)configurações atentos ao mercado de trabalho e, principalmente, a uma formação profissional de qualidade. Um cuidado a ser sempre adotado é não ser refém do mercado de trabalho, do imediatismo, e buscar sempre uma formação profissional que possibilite a compreensão e a transformação da realidade.
Uma das competências para ler a realidade é a noção de que estamos em uma sociedade globalizada surgida da integração econômica, mas que impacta os aspectos políticos, culturais e sociais. Essa necessidade de novas frentes de expansão do mercado culminou num crescimento sem precedentes, principalmente a partir da segunda metade do século passado, na disseminação e expansão culturais. Esse cenário globalizado acaba por impor novos valores e comportamentos, além de criar mercados de trabalho.
Portanto, você precisa sempre buscar o desenvolvimento de competências, compreender os processos de globalização e empregabilidade, estar atento às novas demandas e novos mercados potenciais, superando os desafios e compreendendo as mais diversas e adversas circunstâncias que permeiam o mercado de trabalho em Educação Física.
Competência pode ser compreendida como o conjunto de conhecimentos, técnicas, valores e habilidades necessárias para o desempenho eficiente e eficaz no exercício da profissão Educação Física (BARROS, 2006).
O mercado multidisciplinar
Uma das principais competências necessárias para inserção no mercado de trabalho está relacionada às equipes multidisciplinares. Essa é uma tendência global em termos de exigência de perfil e qualidade profissional, conforme a sociedade, o mercado de trabalho, as empresas e os mais diversos campos de conhecimento e tecnologias buscam agregar valores e saberes advindos de campos de formação diferentes para atuar, de modo multidisciplinar, nas demandas sociais. Nesse sentido, reconhecem-se a expertise de cada área de formação profissional envolvida e suas contribuições na prestação de serviços, no trabalho colaborativo que compreende a visão do outro profissional, assim como se reconhecem suas particularidades e dificuldades no processo de trabalho. Cada profissional, dentro da expertise de seu conhecimento especializado, de modo colaborativo e compartilhado, dará sua contribuição e saberá unir seu conhecimento aos dos demais profissionais, valorizando o seu saber e o dos seus colegas. Esse envolvimento coletivo e colaborativo é fundamental para o trabalho em equipes multidisciplinares, que terão funções diferentes, partilhando diferentes olhares e saberes diante de uma intervenção profissional, mobilizando conhecimentos teóricos e práticos em face de suas realidades de atuação.
Portanto, dentro da Educação Física e dos seus mais diversos campos de atuação presentes no mercado de trabalho, há alguns espaços já consolidados para a atuação em equipe multidisciplinar, como a área da saúde e do esporte. No entanto, precisamos compreender que essa dimensão multifacetada é algo cada mais vez mais presente e abrange outras áreas consolidadas de atuação, como o lazer e a educação.
Assimile
Com a inserção da Educação Física na área da saúde e os espaços conquistados no SUS, como vimos na seção anterior, há uma crescente produção de conhecimento sobre a formação e atuação na saúde pública, na saúde coletiva e, principalmente, no âmbito das equipes multidisciplinares. Essa relação entre formação acadêmica e mercado de trabalho é fundamental para a consolidação do profissional nessas equipes e campos de intervenção. O dizer “eu faço parte da área da saúde”, por si só, não garante nem justifica nossa área dentro de um importante programa de equipe multidisciplinar: precisamos sempre buscar o desenvolvimento de competências e habilidades para desenvolver uma expertise que justifique nossa especialidade de conhecimento e intervenção.
A área da saúde é, sem dúvida, a que mais se desponta em termos de atuação em equipe multidisciplinar no campo da Educação Física. A Constituição Federal de 1988 promoveu um novo reordenamento no campo da saúde. O Sistema Único de Saúde (SUS) surge, então, em 1990, instituindo a saúde como direito fundamental e o Estado como responsável por criar as condições necessárias e indispensáveis ao pleno exercício desse direito pela população. Os princípios doutrinários do SUS são: universalidade: a garantia do sistema de saúde a toda a população; equidade: a garantia de serviços de todos os níveis e da igualdade de oportunidade, principalmente diante das desigualdades sociais; e integralidade: a promoção, a proteção e a recuperação da saúde. Além disso, em cada esfera do Estado (municipal, estadual e federal) devem ser construídas ações para sua garantia.
No tocante à inserção e atuação do profissional de educação física nas políticas que garantem a promoção e prevenção em saúde, percebe-se, claramente, o reconhecimento e a importância desse profissional nas equipes multidisciplinares. O profissional de educação física, a partir de sua atuação no Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), pode contribuir com uma expertise desenvolvida historicamente pela área no campo da atuação em saúde, relacionada aos aspectos físicos, emocionais e cognitivos, promovendo a melhoria da qualidade de vida da população a partir de sua atuação, dando maior amplitude à atenção básica com ações das atividades físicas e práticas corporais. Pensando a dimensão multiprofissional legalmente garantida em sua constituição, a atuação do profissional de educação física no NASF e sua integração devem ser balizadas por competências profissionais que vão além do saber especializado, como as ações compartilhadas, com visão ampla no aspecto da saúde e da prestação de serviço de forma integral aos cidadãos, objetivando a promoção da saúde e a prevenção de doenças.
Uma perspectiva fundamental dessa atuação é a sua dimensão educativa. O conhecimento sobre os aspectos da saúde e da prática da atividade física e a incorporação de hábitos saudáveis são importantes bases do processo. Assim, a atuação do profissional não se limita na relação focal da doença, mas em promover outros aspectos da dimensão humana, como a socialização, a integração social e a educação para a saúde.
Como você deve se lembrar, a Resolução nº 391, de 26 de agosto de 2020, reconhece e define a atuação e as competências do profissional de educação física em contextos hospitalares (CONFEF, 2020). Assim, para além do âmbito da saúde pública, mas tendo esse mercado de trabalho como precursor dessa conquista, a atuação em ambientes hospitalares (incluindo clínicas) também mediada por equipes multidisciplinares é, necessariamente, um novo mercado de trabalho que se abre. A atuação em contextos clínicos e hospitalares já existia; o que a resolução traz, sendo que foi elaborada com a colaboração de profissionais de educação física que atuam na Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) e com a Comissão de Atividade Física e Saúde do Conselho Federal de Educação Física (CONFEF), em seu art. 3º, é o seguinte:
Reafirmar que é prerrogativa do Profissional de Educação Física no contexto da área hospitalar: coordenar, planejar, programar, supervisionar, dinamizar, dirigir, organizar, avaliar e executar trabalhos, programas, planos e projetos, nas áreas de atividades físicas e do exercício físico, destinados a promoção, prevenção, proteção, educação, intervenção, recuperação, reabilitação, tratamento e cuidados paliativos da saúde física e mental, na área específica ou de forma multiprofissional e/ou interdisciplinar.
A resolução lista XXII competências e atribuições do profissional de educação física para atuação em contexto hospitalar e, em seu art. 5º, estabelece que o “Profissional de Educação Física poderá atuar em toda e qualquer área hospitalar da atenção à saúde, às quais se reconhecem os benefícios da atividade física e do exercício físico” (CONFEF, 2020, [s. p.]). Como você pode perceber, a atuação profissional nos campos da saúde e os mercados que deles derivam são mediados por regulamentações específicas (leis, normativas e resoluções) que orientam como deve proceder a atuação e a formação do profissional de educação física que queira operar no campo da saúde.
Porém, por mais que a saúde seja um importante campo de formação e atuação profissional, as possibilidades profissionais da área são bastante diversas. O campo do esporte também se configura como um importante mercado de trabalho, com a presença de muitas equipes profissionais, principalmente quando se trata do esporte de rendimento e profissional.
Quando delimitamos neste momento o esporte de competição de rendimento, o campo do treinamento esportivo, destaca-se que a busca pelo melhor desempenho de um atleta, sua performance, vai depender de diversos fatores, como técnico, tático, físico, psicológico, que, em suas interações, potencializam a melhora no desempenho esportivo. Para se alcançar o desempenho desejado é necessária, então, a atuação de diferentes profissionais especialistas, com formações distintas, como o médico, o nutricionista, o psicólogo, o fisioterapeuta, o profissional de educação física, o gestor e o administrador esportivos. Essa atuação também vai exigir cooperação da equipe multidisciplinar, cada um em seu campo específico busca um resultado construído em conjunto.
Quando se pensa no campo do esporte, algumas das competências desejadas são organização e planejamento, pois o treinamento especializado se dá ancorado nesses princípios, de forma sistematizada, compreendendo desde saberes anátomo-fisiológicos até a ciência do treinamento esportivo e atuando a partir da autonomia nas relações com outros profissionais a partir da expertise da Educação Física no campo esportivo.
Dentro do campo esportivo, mas atuando em outras dimensões do esporte, como a iniciação esportiva e/ou projetos sociais, a atuação profissional também pode ocorrer em equipes multidisciplinares. O que você deve levar em consideração é a dimensão do esporte em que atua e as competências e saberes necessários para atuação. Muitas empresas e órgãos públicos, principalmente em nível municipal e estadual, desenvolvem projetos sociais e de iniciação esportiva com objetivos relacionados mais à formação do cidadão do que necessariamente o desempenho atlético e esportivo. São demandas locais, problemas sociais, econômicos e culturais que a atuação conjunta com profissionais de outras áreas (como pedagogos, psicólogos, assistentes sociais, médicos, dentistas, nutricionistas) busca, através do esporte, a construção da cidadania e a melhoraria das condições de vida, principalmente de jovens e crianças em condições de vulnerabilidade social.
Outro campo de atuação profissional tradicional, que se desenvolveu fortemente, tanto no aspecto acadêmico quanto no profissional, principalmente a partir dos anos 1970 no Brasil, é o lazer. Considerado um dos grandes fenômenos da sociedade moderna, caracteriza-se por ser multifacetado, logo, possui uma grande potencialidade de trabalho em equipe multidisciplinar devido às mais diversas manifestações e sentidos das práticas de lazer na contemporaneidade. Pode-se considerar que a Educação Física conquistou um espaço de hegemonia quando abarcou a dimensão da atuação no lazer, principalmente nas atividades lúdicas e recreativas. Portanto, como afirma Isayama (2003), é necessário compreender o lazer como um campo de atuação multidisciplinar que pode materializar propostas de atuação que favoreçam a interdisciplinaridade.
Importante destacar que a atuação no âmbito do lazer requer, tanto na formação inicial quanto na formação continuada, a busca por uma formação específica na dimensão teórico-prática, na abrangência do que o fenômeno lazer realmente significa para a vida em sociedade e para a construção de uma sociedade mais justa.
Reflita
Será que conhecer um grande rol de atividades como jogos e brincadeiras é necessário para a atuação no campo do lazer? Esse fenômeno só pode ser compreendido em sua complexidade se levarmos em consideração os aspectos culturais, políticos e sociais. Portanto, para sua apreensão conceitual, é necessária uma visão ampliada que vá além da execução de atividades, mas atinja sua dimensão estrutural na sociedade.
O setor privado e o público são os grandes campos de atuação. Este depende quase que exclusivamente de uma efetiva materialidade de políticas públicas voltadas ao lazer, como a construção de espaços e equipamentos de esporte e lazer e, de modo efetivo, programas e projetos para a ocupação e significado social na vida cotidiana da população. Porém, é no setor privado que o mercado de trabalho do lazer mais cresce, como hotéis, resorts, empresas na área da recreação, entre outros.
Destacando a dimensão da especialidade da formação profissional e do conhecimento para a atuação em espaços de trabalho em equipes multidisciplinares, não podemos deixar de destacar um campo que por vezes é relegado por causa da dimensão da especialidade requerida: as atividades físicas e esportes adaptados para pessoas com deficiência. De modo especial, podemos destacar as escolas de educação especial, juntamente com o profissional de terapia ocupacional, fisioterapeuta, psicólogo, fonoaudiólogo, assistente social e o profissional de educação física, que buscam a inclusão social, o processo de autonomia e qualidade de vida das pessoas com deficiência.
As práticas de educação inclusiva, seja no próprio ensino regular ou no atendimento em escolas de educação especial, devem ser pensadas e executadas com equipes multidisciplinares. Assim, tanto a inclusão de alunos com deficiência em escolas regulares quanto o atendimento em escolas especiais requerem, do profissional de educação física e de seu trabalho com atividades físico-esportivas e motoras adaptadas, conhecimentos anatômicos, físicos, motores, neurológicos, psicológicos, comportamentais, bioquímicos e outros que se façam necessários para ancorar o atendimento das pessoas com deficiência.
Pensando ainda na dimensão da inclusão social, esses mesmo princípios agora estudados se materializam não somente para os alunos com deficiência, mas também para alunos que necessitam de atendimento educacional especializado devido, por exemplo, às altas habilidades, transtornos globais e, ainda, questões relacionadas à saúde, como problemas cardíacos, respiratórios (como a asma), diabetes, problemas motores, articulares etc. Enfim, a escola regular, em especial, a educação física adaptada, precisa oferecer todas as condições necessárias para que os alunos com necessidades educacionais especiais tenham acesso aos conteúdos, ao currículo escolar, às vivencias pedagógicas, ou seja, deve assegurar o acesso àquilo que é fundamental a todos os alunos da escola.
É esse caminho que perpassa a educação inclusiva na busca por autonomia funcional, sendo as atividades físico-esportivas adaptadas fundamentais para que o profissional de educação física possa trabalhar a partir da adaptação de materiais, espaços e processos pedagógicos de acordo com sua realidade e as necessidades dos alunos.
Ainda nesse contexto, uma outra dimensão da atuação em equipes multidisciplinares pode ser encontrada na reabilitação. Podemos entender a reabilitação como um processo relacionado ao desenvolvimento humano e às capacidades adaptativas nas diferentes fases da vida, abrangendo os aspectos funcionais, psíquicos, educacionais, sociais e profissionais (BRASIL, 2008).
A Educação Física, incluída nesse processo, colabora para que seja assegurada à pessoa com deficiência, seja qual for a natureza e origem dessa deficiência, uma efetiva participação com maior independência possível. As atividades físicas e esportivas adaptadas também cumprem um significativo papel na reabilitação social e psicológica das pessoas com deficiência, uma vez que possibilita, a partir da intervenção do profissional da área, um redescobrimento do próprio corpo e suas funções, suas possibilidades, num processo de autoaceitação e conhecimento sobre as novas imagens de si que passam a ser reconstruídas, de modo que, aos poucos, vão reassumindo seus papéis sociais, principalmente quando a pessoa adquire (e não nasce com) uma deficiência.
O trabalho isolado e fragmentado nesse campo tende a dar poucos resultados, principalmente quando comparado a uma equipe multidisciplinar que busca atuar em todas as dimensões necessárias para a melhoria da qualidade de vida e busca da autonomia dos indivíduos.
Para finalizarmos essa discussão, não podemos deixar de destacar a própria dimensão da Educação Física escolar. Quando pensamos na estrutura disciplinar e nos diferentes profissionais com distintas formações disciplinares atuando no espaço escolar, logo imaginamos que a dimensão multidisciplinar seria uma dimensão “óbvia”, direta, natural. No entanto, para ela ser concretizada, precisa justamente superar as barreiras e fronteiras disciplinares que moldam a atuação tradicional na educação formal.
A constituição de equipes multidisciplinares de modo permanente e temporária no âmbito escolar pode contribuir para tornar a educação mais efetiva, de maior qualidade, buscando a inovação de propostas pedagógicas para o enfrentamento das dificuldades presentes no cotidiano escolar. É um fator que pode impactar na qualidade pedagógica da escola. A própria Base Nacional Comum Curricular estabelece os temas contemporâneos que, para seu tratamento pedagógico em sua plenitude, precisam ser abordados de forma transdisciplinar (BRASIL, 2018).
Esses temas não estão presentes de modo fragmentado nas disciplinas escolares, mas cada uma, em sua especificidade e no trabalho pedagógico integrado, pode contribuir para a compreensão, a construção e a apropriação de saberes a elas relacionados, ou seja, a abordagem transdisciplinar configura-se como uma proposta transformadora, relacionando diversos conhecimentos, linguagens, significados e representações em torno de uma temática.
Portanto, como apontam Minelli, Soriano e Fávaro (2009), os problemas com os quais a sociedade se defronta são tão complexos que nenhuma profissão pode ter a pretensão de resolvê-los atuando isoladamente. O que é necessário é a constante busca profissional por conhecimento, de natureza científica e técnica, na qual cada área pode contribuir do modo mais qualificado possível no enfretamento dos problemas, apresentando perspectivas diferentes e complementares.
A variação do mercado sazonal
A Educação Física, entendida no âmbito das profissões liberais, está sujeita às influências sazonais do mercado de trabalho, que podem se dar por diferentes motivos. Um ponto a ser destacado é que cada realidade cultural apresenta aspectos diferentes relacionados à sazonalidade. Por exemplo, o período de férias faz crescer de modo significativo, principalmente nos grandes centros urbanos, a procura por vivências em hotéis, resorts e até mesmo em condomínios, para suprir a demanda de ocupação do tempo livre das crianças que conflitua com o tempo de trabalho dos pais/responsáveis. Nesse sentido, o mercado de trabalho na área do lazer fica mais aquecido, oferecendo maior potencial.
Juntamente com as férias escolares, no período do verão no Brasil cresce a procura por atividades de academias, de ginásticas, de musculação, sempre voltadas a uma perspectiva estética, mas de forma imediata e temporal. Assim, os cuidados com a saúde aumentam nesse período. Mas não podemos ver esse fato em específico como um problema, mas como uma oportunidade de conseguir novos beneficiários/clientes, que muitas vezes conseguem passar pelo período sensível inicial da prática da atividade física e acabam por aderir e incorporá-la como um hábito cotidiano.
As atividades de academia também buscam sempre novas práticas, novas modalidades, ou seja, procuram novidades para manter a clientela, uma vez que a demanda pelo inédito é algo muito presente nessas práticas, pois acabam por ser maçantes, repetitivas. Deve-se tomar cuidado com os “modismos” que surgem e passam com a mesma velocidade. Isso requer atenção e muito planejamento por parte do profissional de educação física.
Datas e momentos esportivos especiais também devem ser levados em consideração, como a Copa do Mundo de Futebol e as Olimpíadas. De modo especial, as Olimpíadas possuem o potencial de difundir esportes não tão conhecidos e praticados e, quando surge nesse evento a figura do herói, da conquista, esse esporte acaba sendo mais procurado. Um exemplo claro pode ser dado com a medalha de ouro do voleibol nos Jogos Olímpicos de Verão em Barcelona, em 1992. Toda uma geração de novos jogadores e praticantes foi formada pela difusão das imagens esportivas e disseminação da prática do voleibol a partir desse marco, dessa conquista.
Tecnologias e mercado do profissional de educação física
Como você lida com as questões tecnológicas em seu cotidiano? Que espaço elas ocupam em sua vida? E que importância e significado elas possuem para você? Hoje, essas perguntas, mesmo que direcionadas ao âmbito da vida pessoal, podem ser facilmente transferidas ao campo profissional.
Cada vez mais há a necessidade de desenvolvimento tecnológico e apropriação desses recursos como forma de mediar diversas esferas da vida em sociedade. A revolução tecnológica da informação coloca as profissões atuais em constante questionamento, uma vez que precisam acompanhar as mudanças e saber utilizá-las como instrumentos de trabalho. As Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) estão cada vez mais presentes e incorporadas à vida cotidiana. Tais tecnologias podem se caracterizar como ferramentas de trabalho. No campo da docência, as TICs são fundamentais para o desenvolvimento de práticas inovadoras, agilizando o trabalho do professor, aproximando o professor da realidade do aluno, principalmente nas tendências do mercado de trabalho. Assim, dentro do campo escolar, as TICs podem servir de recurso pedagógico com diferentes intencionalidades para cumprir os objetivos da Educação Física escolar.
Exemplificando
Os Exergames são tipos de videogames que utilizam sensores ou consoles que exigem a realização de movimentos para a execução da ação de jogar. Muitas experiências vêm sendo desenvolvidas para crianças e adolescentes, principalmente no combate ao sedentarismo e no trabalho com atividade física, tanto dentro como fora do contexto escolar. Considerando o videogame de modo simplista, ele é um dos vilões na questão dos hábitos sedentários. Entretanto, podemos utilizar essa linguagem tecnológica presente na cultura contemporânea como forma de atuação profissional.
Quando pensamos na relação entre Educação Física e mercado de trabalho, temos que levar em consideração que essa relação sempre foi mediada por diversos aspectos presentes no campo econômico e político que, juntamente com os embates e debates internos na área, vão constituindo os elementos que nos possibilitam um maior domínio dos conhecimentos interdependentes dentro de uma rede complexa. Ao olharmos para a contemporaneidade, podemos visualizar um mercado de trabalho que, em geral, requer diversas competências, habilidades e comportamentos que proporcionem uma maior empregabilidade e sustentabilidade da carreira profissional.
Como você pôde perceber ao longo desta unidade, uma área de formação profissional precisa estar atenta às novas demandas, mudanças e tendências do mercado, às alterações nas legislações e diretrizes de formação profissional – como visualizamos na nova diretriz de formação para a Educação Física, aprovada em 2018. Assim, tanto a Educação Física quanto o Estado e o próprio mercado de trabalho atuam e influenciam nas dimensões da formação e preparação para a vida profissional.
Não somos uma área alheia e desconexa das relações macro e microeconômicas e políticas que impactam a sociedade. Também não somos uma área estagnada, cristalizada. Passamos por diversas mudanças e (re)configurações atentos ao mercado de trabalho e, principalmente, a uma formação profissional de qualidade. Um cuidado a ser sempre adotado é não ser refém do mercado de trabalho, do imediatismo, e buscar sempre uma formação profissional que possibilite a compreensão e a transformação da realidade.
Uma das competências para ler a realidade é a noção de que estamos em uma sociedade globalizada surgida da integração econômica, mas que impacta os aspectos políticos, culturais e sociais. Essa necessidade de novas frentes de expansão do mercado culminou num crescimento sem precedentes, principalmente a partir da segunda metade do século passado, na disseminação e expansão culturais. Esse cenário globalizado acaba por impor novos valores e comportamentos, além de criar mercados de trabalho.
Portanto, você precisa sempre buscar o desenvolvimento de competências, compreender os processos de globalização e empregabilidade, estar atento às novas demandas e novos mercados potenciais, superando os desafios e compreendendo as mais diversas e adversas circunstâncias que permeiam o mercado de trabalho em Educação Física.
Competência pode ser compreendida como o conjunto de conhecimentos, técnicas, valores e habilidades necessárias para o desempenho eficiente e eficaz no exercício da profissão Educação Física (BARROS, 2006).
O mercado multidisciplinar
Uma das principais competências necessárias para inserção no mercado de trabalho está relacionada às equipes multidisciplinares. Essa é uma tendência global em termos de exigência de perfil e qualidade profissional, conforme a sociedade, o mercado de trabalho, as empresas e os mais diversos campos de conhecimento e tecnologias buscam agregar valores e saberes advindos de campos de formação diferentes para atuar, de modo multidisciplinar, nas demandas sociais. Nesse sentido, reconhecem-se a expertise de cada área de formação profissional envolvida e suas contribuições na prestação de serviços, no trabalho colaborativo que compreende a visão do outro profissional, assim como se reconhecem suas particularidades e dificuldades no processo de trabalho. Cada profissional, dentro da expertise de seu conhecimento especializado, de modo colaborativo e compartilhado, dará sua contribuição e saberá unir seu conhecimento aos dos demais profissionais, valorizando o seu saber e o dos seus colegas. Esse envolvimento coletivo e colaborativo é fundamental para o trabalho em equipes multidisciplinares, que terão funções diferentes, partilhando diferentes olhares e saberes diante de uma intervenção profissional, mobilizando conhecimentos teóricos e práticos em face de suas realidades de atuação.
Portanto, dentro da Educação Física e dos seus mais diversos campos de atuação presentes no mercado de trabalho, há alguns espaços já consolidados para a atuação em equipe multidisciplinar, como a área da saúde e do esporte. No entanto, precisamos compreender que essa dimensão multifacetada é algo cada mais vez mais presente e abrange outras áreas consolidadas de atuação, como o lazer e a educação.
Assimile
Com a inserção da Educação Física na área da saúde e os espaços conquistados no SUS, como vimos na seção anterior, há uma crescente produção de conhecimento sobre a formação e atuação na saúde pública, na saúde coletiva e, principalmente, no âmbito das equipes multidisciplinares. Essa relação entre formação acadêmica e mercado de trabalho é fundamental para a consolidação do profissional nessas equipes e campos de intervenção. O dizer “eu faço parte da área da saúde”, por si só, não garante nem justifica nossa área dentro de um importante programa de equipe multidisciplinar: precisamos sempre buscar o desenvolvimento de competências e habilidades para desenvolver uma expertise que justifique nossa especialidade de conhecimento e intervenção.
A área da saúde é, sem dúvida, a que mais se desponta em termos de atuação em equipe multidisciplinar no campo da Educação Física. A Constituição Federal de 1988 promoveu um novo reordenamento no campo da saúde. O Sistema Único de Saúde (SUS) surge, então, em 1990, instituindo a saúde como direito fundamental e o Estado como responsável por criar as condições necessárias e indispensáveis ao pleno exercício desse direito pela população. Os princípios doutrinários do SUS são: universalidade: a garantia do sistema de saúde a toda a população; equidade: a garantia de serviços de todos os níveis e da igualdade de oportunidade, principalmente diante das desigualdades sociais; e integralidade: a promoção, a proteção e a recuperação da saúde. Além disso, em cada esfera do Estado (municipal, estadual e federal) devem ser construídas ações para sua garantia.
No tocante à inserção e atuação do profissional de educação física nas políticas que garantem a promoção e prevenção em saúde, percebe-se, claramente, o reconhecimento e a importância desse profissional nas equipes multidisciplinares. O profissional de educação física, a partir de sua atuação no Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), pode contribuir com uma expertise desenvolvida historicamente pela área no campo da atuação em saúde, relacionada aos aspectos físicos, emocionais e cognitivos, promovendo a melhoria da qualidade de vida da população a partir de sua atuação, dando maior amplitude à atenção básica com ações das atividades físicas e práticas corporais. Pensando a dimensão multiprofissional legalmente garantida em sua constituição, a atuação do profissional de educação física no NASF e sua integração devem ser balizadas por competências profissionais que vão além do saber especializado, como as ações compartilhadas, com visão ampla no aspecto da saúde e da prestação de serviço de forma integral aos cidadãos, objetivando a promoção da saúde e a prevenção de doenças.
Uma perspectiva fundamental dessa atuação é a sua dimensão educativa. O conhecimento sobre os aspectos da saúde e da prática da atividade física e a incorporação de hábitos saudáveis são importantes bases do processo. Assim, a atuação do profissional não se limita na relação focal da doença, mas em promover outros aspectos da dimensão humana, como a socialização, a integração social e a educação para a saúde.
Como você deve se lembrar, a Resolução nº 391, de 26 de agosto de 2020, reconhece e define a atuação e as competências do profissional de educação física em contextos hospitalares (CONFEF, 2020). Assim, para além do âmbito da saúde pública, mas tendo esse mercado de trabalho como precursor dessa conquista, a atuação em ambientes hospitalares (incluindo clínicas) também mediada por equipes multidisciplinares é, necessariamente, um novo mercado de trabalho que se abre. A atuação em contextos clínicos e hospitalares já existia; o que a resolução traz, sendo que foi elaborada com a colaboração de profissionais de educação física que atuam na Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) e com a Comissão de Atividade Física e Saúde do Conselho Federal de Educação Física (CONFEF), em seu art. 3º, é o seguinte:
Reafirmar que é prerrogativa do Profissional de Educação Física no contexto da área hospitalar: coordenar, planejar, programar, supervisionar, dinamizar, dirigir, organizar, avaliar e executar trabalhos, programas, planos e projetos, nas áreas de atividades físicas e do exercício físico, destinados a promoção, prevenção, proteção, educação, intervenção, recuperação, reabilitação, tratamento e cuidados paliativos da saúde física e mental, na área específica ou de forma multiprofissional e/ou interdisciplinar.
A resolução lista XXII competências e atribuições do profissional de educação física para atuação em contexto hospitalar e, em seu art. 5º, estabelece que o “Profissional de Educação Física poderá atuar em toda e qualquer área hospitalar da atenção à saúde, às quais se reconhecem os benefícios da atividade física e do exercício físico” (CONFEF, 2020, [s. p.]). Como você pode perceber, a atuação profissional nos campos da saúde e os mercados que deles derivam são mediados por regulamentações específicas (leis, normativas e resoluções) que orientam como deve proceder a atuação e a formação do profissional de educação física que queira operar no campo da saúde.
Porém, por mais que a saúde seja um importante campo de formação e atuação profissional, as possibilidades profissionais da área são bastante diversas. O campo do esporte também se configura como um importante mercado de trabalho, com a presença de muitas equipes profissionais, principalmente quando se trata do esporte de rendimento e profissional.
Quando delimitamos neste momento o esporte de competição de rendimento, o campo do treinamento esportivo, destaca-se que a busca pelo melhor desempenho de um atleta, sua performance, vai depender de diversos fatores, como técnico, tático, físico, psicológico, que, em suas interações, potencializam a melhora no desempenho esportivo. Para se alcançar o desempenho desejado é necessária, então, a atuação de diferentes profissionais especialistas, com formações distintas, como o médico, o nutricionista, o psicólogo, o fisioterapeuta, o profissional de educação física, o gestor e o administrador esportivos. Essa atuação também vai exigir cooperação da equipe multidisciplinar, cada um em seu campo específico busca um resultado construído em conjunto.
Quando se pensa no campo do esporte, algumas das competências desejadas são organização e planejamento, pois o treinamento especializado se dá ancorado nesses princípios, de forma sistematizada, compreendendo desde saberes anátomo-fisiológicos até a ciência do treinamento esportivo e atuando a partir da autonomia nas relações com outros profissionais a partir da expertise da Educação Física no campo esportivo.
Dentro do campo esportivo, mas atuando em outras dimensões do esporte, como a iniciação esportiva e/ou projetos sociais, a atuação profissional também pode ocorrer em equipes multidisciplinares. O que você deve levar em consideração é a dimensão do esporte em que atua e as competências e saberes necessários para atuação. Muitas empresas e órgãos públicos, principalmente em nível municipal e estadual, desenvolvem projetos sociais e de iniciação esportiva com objetivos relacionados mais à formação do cidadão do que necessariamente o desempenho atlético e esportivo. São demandas locais, problemas sociais, econômicos e culturais que a atuação conjunta com profissionais de outras áreas (como pedagogos, psicólogos, assistentes sociais, médicos, dentistas, nutricionistas) busca, através do esporte, a construção da cidadania e a melhoraria das condições de vida, principalmente de jovens e crianças em condições de vulnerabilidade social.
Outro campo de atuação profissional tradicional, que se desenvolveu fortemente, tanto no aspecto acadêmico quanto no profissional, principalmente a partir dos anos 1970 no Brasil, é o lazer. Considerado um dos grandes fenômenos da sociedade moderna, caracteriza-se por ser multifacetado, logo, possui uma grande potencialidade de trabalho em equipe multidisciplinar devido às mais diversas manifestações e sentidos das práticas de lazer na contemporaneidade. Pode-se considerar que a Educação Física conquistou um espaço de hegemonia quando abarcou a dimensão da atuação no lazer, principalmente nas atividades lúdicas e recreativas. Portanto, como afirma Isayama (2003), é necessário compreender o lazer como um campo de atuação multidisciplinar que pode materializar propostas de atuação que favoreçam a interdisciplinaridade.
Importante destacar que a atuação no âmbito do lazer requer, tanto na formação inicial quanto na formação continuada, a busca por uma formação específica na dimensão teórico-prática, na abrangência do que o fenômeno lazer realmente significa para a vida em sociedade e para a construção de uma sociedade mais justa.
Reflita
Será que conhecer um grande rol de atividades como jogos e brincadeiras é necessário para a atuação no campo do lazer? Esse fenômeno só pode ser compreendido em sua complexidade se levarmos em consideração os aspectos culturais, políticos e sociais. Portanto, para sua apreensão conceitual, é necessária uma visão ampliada que vá além da execução de atividades, mas atinja sua dimensão estrutural na sociedade.
O setor privado e o público são os grandes campos de atuação. Este depende quase que exclusivamente de uma efetiva materialidade de políticas públicas voltadas ao lazer, como a construção de espaços e equipamentos de esporte e lazer e, de modo efetivo, programas e projetos para a ocupação e significado social na vida cotidiana da população. Porém, é no setor privado que o mercado de trabalho do lazer mais cresce, como hotéis, resorts, empresas na área da recreação, entre outros.
Destacando a dimensão da especialidade da formação profissional e do conhecimento para a atuação em espaços de trabalho em equipes multidisciplinares, não podemos deixar de destacar um campo que por vezes é relegado por causa da dimensão da especialidade requerida: as atividades físicas e esportes adaptados para pessoas com deficiência. De modo especial, podemos destacar as escolas de educação especial, juntamente com o profissional de terapia ocupacional, fisioterapeuta, psicólogo, fonoaudiólogo, assistente social e o profissional de educação física, que buscam a inclusão social, o processo de autonomia e qualidade de vida das pessoas com deficiência.
As práticas de educação inclusiva, seja no próprio ensino regular ou no atendimento em escolas de educação especial, devem ser pensadas e executadas com equipes multidisciplinares. Assim, tanto a inclusão de alunos com deficiência em escolas regulares quanto o atendimento em escolas especiais requerem, do profissional de educação física e de seu trabalho com atividades físico-esportivas e motoras adaptadas, conhecimentos anatômicos, físicos, motores, neurológicos, psicológicos, comportamentais, bioquímicos e outros que se façam necessários para ancorar o atendimento das pessoas com deficiência.
Pensando ainda na dimensão da inclusão social, esses mesmo princípios agora estudados se materializam não somente para os alunos com deficiência, mas também para alunos que necessitam de atendimento educacional especializado devido, por exemplo, às altas habilidades, transtornos globais e, ainda, questões relacionadas à saúde, como problemas cardíacos, respiratórios (como a asma), diabetes, problemas motores, articulares etc. Enfim, a escola regular, em especial, a educação física adaptada, precisa oferecer todas as condições necessárias para que os alunos com necessidades educacionais especiais tenham acesso aos conteúdos, ao currículo escolar, às vivencias pedagógicas, ou seja, deve assegurar o acesso àquilo que é fundamental a todos os alunos da escola.
É esse caminho que perpassa a educação inclusiva na busca por autonomia funcional, sendo as atividades físico-esportivas adaptadas fundamentais para que o profissional de educação física possa trabalhar a partir da adaptação de materiais, espaços e processos pedagógicos de acordo com sua realidade e as necessidades dos alunos.
Ainda nesse contexto, uma outra dimensão da atuação em equipes multidisciplinares pode ser encontrada na reabilitação. Podemos entender a reabilitação como um processo relacionado ao desenvolvimento humano e às capacidades adaptativas nas diferentes fases da vida, abrangendo os aspectos funcionais, psíquicos, educacionais, sociais e profissionais (BRASIL, 2008).
A Educação Física, incluída nesse processo, colabora para que seja assegurada à pessoa com deficiência, seja qual for a natureza e origem dessa deficiência, uma efetiva participação com maior independência possível. As atividades físicas e esportivas adaptadas também cumprem um significativo papel na reabilitação social e psicológica das pessoas com deficiência, uma vez que possibilita, a partir da intervenção do profissional da área, um redescobrimento do próprio corpo e suas funções, suas possibilidades, num processo de autoaceitação e conhecimento sobre as novas imagens de si que passam a ser reconstruídas, de modo que, aos poucos, vão reassumindo seus papéis sociais, principalmente quando a pessoa adquire (e não nasce com) uma deficiência.
O trabalho isolado e fragmentado nesse campo tende a dar poucos resultados, principalmente quando comparado a uma equipe multidisciplinar que busca atuar em todas as dimensões necessárias para a melhoria da qualidade de vida e busca da autonomia dos indivíduos.
Para finalizarmos essa discussão, não podemos deixar de destacar a própria dimensão da Educação Física escolar. Quando pensamos na estrutura disciplinar e nos diferentes profissionais com distintas formações disciplinares atuando no espaço escolar, logo imaginamos que a dimensão multidisciplinar seria uma dimensão “óbvia”, direta, natural. No entanto, para ela ser concretizada, precisa justamente superar as barreiras e fronteiras disciplinares que moldam a atuação tradicional na educação formal.
A constituição de equipes multidisciplinares de modo permanente e temporária no âmbito escolar pode contribuir para tornar a educação mais efetiva, de maior qualidade, buscando a inovação de propostas pedagógicas para o enfrentamento das dificuldades presentes no cotidiano escolar. É um fator que pode impactar na qualidade pedagógica da escola. A própria Base Nacional Comum Curricular estabelece os temas contemporâneos que, para seu tratamento pedagógico em sua plenitude, precisam ser abordados de forma transdisciplinar (BRASIL, 2018).
Esses temas não estão presentes de modo fragmentado nas disciplinas escolares, mas cada uma, em sua especificidade e no trabalho pedagógico integrado, pode contribuir para a compreensão, a construção e a apropriação de saberes a elas relacionados, ou seja, a abordagem transdisciplinar configura-se como uma proposta transformadora, relacionando diversos conhecimentos, linguagens, significados e representações em torno de uma temática.
Portanto, como apontam Minelli, Soriano e Fávaro (2009), os problemas com os quais a sociedade se defronta são tão complexos que nenhuma profissão pode ter a pretensão de resolvê-los atuando isoladamente. O que é necessário é a constante busca profissional por conhecimento, de natureza científica e técnica, na qual cada área pode contribuir do modo mais qualificado possível no enfretamento dos problemas, apresentando perspectivas diferentes e complementares.
A variação do mercado sazonal
A Educação Física, entendida no âmbito das profissões liberais, está sujeita às influências sazonais do mercado de trabalho, que podem se dar por diferentes motivos. Um ponto a ser destacado é que cada realidade cultural apresenta aspectos diferentes relacionados à sazonalidade. Por exemplo, o período de férias faz crescer de modo significativo, principalmente nos grandes centros urbanos, a procura por vivências em hotéis, resorts e até mesmo em condomínios, para suprir a demanda de ocupação do tempo livre das crianças que conflitua com o tempo de trabalho dos pais/responsáveis. Nesse sentido, o mercado de trabalho na área do lazer fica mais aquecido, oferecendo maior potencial.
Juntamente com as férias escolares, no período do verão no Brasil cresce a procura por atividades de academias, de ginásticas, de musculação, sempre voltadas a uma perspectiva estética, mas de forma imediata e temporal. Assim, os cuidados com a saúde aumentam nesse período. Mas não podemos ver esse fato em específico como um problema, mas como uma oportunidade de conseguir novos beneficiários/clientes, que muitas vezes conseguem passar pelo período sensível inicial da prática da atividade física e acabam por aderir e incorporá-la como um hábito cotidiano.
As atividades de academia também buscam sempre novas práticas, novas modalidades, ou seja, procuram novidades para manter a clientela, uma vez que a demanda pelo inédito é algo muito presente nessas práticas, pois acabam por ser maçantes, repetitivas. Deve-se tomar cuidado com os “modismos” que surgem e passam com a mesma velocidade. Isso requer atenção e muito planejamento por parte do profissional de educação física.
Datas e momentos esportivos especiais também devem ser levados em consideração, como a Copa do Mundo de Futebol e as Olimpíadas. De modo especial, as Olimpíadas possuem o potencial de difundir esportes não tão conhecidos e praticados e, quando surge nesse evento a figura do herói, da conquista, esse esporte acaba sendo mais procurado. Um exemplo claro pode ser dado com a medalha de ouro do voleibol nos Jogos Olímpicos de Verão em Barcelona, em 1992. Toda uma geração de novos jogadores e praticantes foi formada pela difusão das imagens esportivas e disseminação da prática do voleibol a partir desse marco, dessa conquista.
Tecnologias e mercado do profissional de educação física
Como você lida com as questões tecnológicas em seu cotidiano? Que espaço elas ocupam em sua vida? E que importância e significado elas possuem para você? Hoje, essas perguntas, mesmo que direcionadas ao âmbito da vida pessoal, podem ser facilmente transferidas ao campo profissional.
Cada vez mais há a necessidade de desenvolvimento tecnológico e apropriação desses recursos como forma de mediar diversas esferas da vida em sociedade. A revolução tecnológica da informação coloca as profissões atuais em constante questionamento, uma vez que precisam acompanhar as mudanças e saber utilizá-las como instrumentos de trabalho. As Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) estão cada vez mais presentes e incorporadas à vida cotidiana. Tais tecnologias podem se caracterizar como ferramentas de trabalho. No campo da docência, as TICs são fundamentais para o desenvolvimento de práticas inovadoras, agilizando o trabalho do professor, aproximando o professor da realidade do aluno, principalmente nas tendências do mercado de trabalho. Assim, dentro do campo escolar, as TICs podem servir de recurso pedagógico com diferentes intencionalidades para cumprir os objetivos da Educação Física escolar.
Exemplificando
Os Exergames são tipos de videogames que utilizam sensores ou consoles que exigem a realização de movimentos para a execução da ação de jogar. Muitas experiências vêm sendo desenvolvidas para crianças e adolescentes, principalmente no combate ao sedentarismo e no trabalho com atividade física, tanto dentro como fora do contexto escolar. Considerando o videogame de modo simplista, ele é um dos vilões na questão dos hábitos sedentários. Entretanto, podemos utilizar essa linguagem tecnológica presente na cultura contemporânea como forma de atuação profissional.
Assim como no exemplo citado, o campo da saúde está cada vez mais imerso nas novidades e demandas por tecnologias. Equipamentos com diversas funções, como o frequencímetro, o pedômetro, os mais diversos equipamentos de aferição e análise de força, análises biomecânicas e fisiológicas, análise de movimento, por exemplo, dão mais subsídios de conhecimento e informação para o desenvolvimento de um planejamento voltado para a saúde, a reabilitação ou o desempenho atlético. A atuação no campo do esporte de rendimento, por exemplo, faz com que o profissional de educação física aprenda técnicas; equipamentos para coleta e análise de dados podem ser usados para a detecção de lesões ou de seu potencial acometimento por parte do atleta, a recuperação de atletas e também a manutenção de seu estado atlético em alto nível.
Também cabe destacar os mais diversos softwares desenvolvidos para o campo da atividade física e do exercício físico que podem e devem contar com a contribuição de profissionais de educação física. Soriano (1998) afirma que o profissional deve sempre buscar novas oportunidades, rompendo a estagnação que, muitas vezes, se instaura no mercado de trabalho. Como exemplo, a autora elenca alguns elementos que demandam o desenvolvimento e a apropriação de novas tecnologias, como projetos de ambientes virtuais para a prática de atividades, simulando condições geográficas e climáticas adversas; na construção civil, o estudo e desenvolvimento de equipamentos e espaços para práticas motoras; na indústria têxtil e calçadista, o desenvolvimento de produtos que atendam às necessidades e objetivos dos praticantes; a atuação em equipes multidisciplinares, com o objetivo de construir materiais pedagógicos e didáticos que auxiliem no processo de ensino-aprendizagem dos programas de Educação Física em diferentes espaços, tanto escolares como não escolares.
Como você pôde perceber ao longo desta unidade e, em especial, desta seção, o profissional de educação física, em sua atuação no campo da licenciatura ou do bacharelado, precisa estar atento e saber compreender a complexidade que envolve o mercado de trabalho de um modo geral e, de modo específico, o mercado de trabalho em Educação Física, em especial, o mercado de trabalho em que atua e/ou deseja atuar. O nosso compromisso para com a sociedade é constituir uma área de formação sólida, que justifique nossa presença no campo da formação em nível superior, voltada a atender os mais diversos campos do saber que historicamente foram constituindo e consolidando a Educação Física, seja no âmbito escolar, na saúde pública ou privada, no esporte e no lazer.
Faça valer a pena
Questão 1
A Educação Física, como profissão reconhecida legalmente e cada vez mais valorizada pela sociedade, está sujeita à sazonalidade típica do mercado de trabalho. Assim, além dos aspectos específicos da área, há outros que impactam no mercado de trabalho.
Sobre a relação da Educação Física com o mercado de trabalho, analise as afirmativas a seguir e marque V para as verdadeiras e F para as falsas.
( ) Somos uma área alheia e desconexa das relações macro e microeconômicas e políticas que impactam a sociedade.
( ) O mercado de trabalho da Educação Física é regido exclusivamente por leis próprias; é estável e imutável.
( ) Tanto a Educação Física quanto o Estado e o próprio mercado de trabalho influenciam as dimensões da formação e preparação para a vida profissional.
Agora, assinale a alternativa correta:
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Correto!
A Educação Física é uma área, como as demais profissões, que sofrem impacto das relações macro e microeconômicas e políticas que impactam a sociedade de um modo geral. Assim, o mercado de trabalho da Educação Física é regido por leis próprias, mas também por outras dimensões, como políticas e culturais, portanto, está em constante transformação.
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Questão 2
As Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) estão cada vez mais presentes na sociedade. Elas ajudam a moldar as relações interpessoais, educacionais e trabalhistas. Como profissional inserido na sociedade atual, o mercado de trabalho em Educação Física exigirá de você competências que envolvem o domínio das TICs.
Sobre essa temática, analise as asserções a seguir e a relação proposta entre elas:
- Cada vez mais há a necessidade de desenvolvimento tecnológico e apropriação tecnológica como forma de mediar diversas esferas da vida em sociedade.
PORQUE
- A grande revolução tecnológica presente na atualidade coloca as profissões atuais em constante questionamento, uma vez que precisam dar conta de acompanhar tal evolução e saber como podem utilizar as tecnologias como instrumentos de trabalho.
Sobre essas asserções, assinale a alternativa correta:
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Correto!
As duas afirmativas estão corretas e se complementam. As Tecnologias da Informação e Comunicação estão cada vez mais presentes no mundo das profissões. A Educação Física não está nem pode ficar de fora desse contexto. Cada campo de atuação, cada característica do mercado de trabalho determina quais são os recursos úteis para a intervenção profissional.
Questão 3
O mercado de trabalho multidisciplinar é um dos que mais cresce no campo da Educação Física brasileira. Há uma constante demanda por profissionais que atuem na saúde, no lazer, no esporte ou na educação, seja no setor público, seja no privado.
Sobre a atuação do profissional da educação física em equipes multidisciplinares, assinale a alternativa correta:
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Correto!
É preciso reconhecer a expertise de cada área de formação profissional envolvida e suas contribuições na prestação de serviços de trabalho colaborativo, compreendendo a visão do outro profissional e reconhecendo suas particularidades e dificuldades no processo de trabalho. Cada um, dentro de sua expertise, de seu conhecimento especializado, de modo colaborativo e compartilhado, dará sua contribuição, saberá unir seu conhecimento aos dos demais profissionais, valorizando o seu saber e o dos outros.
Referências
BARROS, J. M. C. A preparação profissional continuada em educação física. Fórum nacional dos Cursos de Formação Profissional em Educação Física no Brasil. Belo Horizonte, 17 a 19 de agosto de 2020.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF, 2018. Disponível em: https://bit.ly/2QL4Wxn. Acesso em: 16 mar. 2021.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. A pessoa com deficiência e o Sistema Único de Saúde. 2. ed. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2008.
CONFEF. Resolução nº 391, de 26 de agosto de 2020. Definir a atuação do Profissional de Educação Física em contextos hospitalares. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, ed. 166, 28 ago. 2020. Disponível em: https://bit.ly/3h7dERj. Acesso em: 21 abr. 2021.
ISAYAMA, H. F. O Profissional de Educação Física como Intelectual: atuação no âmbito do Lazer. In: MARCELLINO, N. C. (Org). Formação e desenvolvimento de pessoal em Lazer e Esporte. Campinas: Papirus, 2003.
MINELLI, D. S.; SORIANO, J. B.; FÁVARO, P. E. O educador físico e a intervenção em equipes multiprofissionais. Movimento, Porto Alegre, v. 15, n. 4, p. 35-62, 2009.
PRONI, M. W. Universidade, profissão Educação Física e o mercado de trabalho. Motriz, Rio Claro, v. 16, n. 3, p. 788-798, jul./set. 2010. Disponível em: https://bit.ly/3b17K05. Acesso em: 16 mar. 2020.
SORIANO, J. B. Educação física: competência profissional e atuação no mercado de trabalho. In: SEMANA DE EDUCAÇÃO FÍSICA, São Paulo, 1998. Anais [...]. São Paulo: Universidade São Judas Tadeu – São Paulo, 1998. p. 44-59.