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SEM MEDO DE ERRAR
Na situação-problema apresentada nesta seção vimos que João Marcos, a partir de sua experiência no estágio profissional, conseguiu propor uma atividade pedagógica que está dando bons resultados no desenvolvimento integral das crianças atendidas pela Clínica Multiprofissional em que atua. Com base em uma reflexão sobre a situação colocada e nos conhecimentos abordados ao longo da seção, podemos entender assim:
- A prática da escalada: a cultura do movimento humano é riquíssima de significados e pode ser utilizada de modo a garantir as finalidades e objetivos pedagógicos previamente planejados. Utilizar a prática da escalada de modo lúdico e recreativo, além de trazer uma atividade diferenciada e desafiadora, pode impactar no desenvolvimento físico, cognitivo e emocional das crianças atendidas. A sensação de medo, os riscos (controlados), a superação de obstáculos emocionais/subjetivos e a própria vivência motora, como o desenvolvimento da força, equilíbrio, agilidade, flexibilidade, respeitando a individualidade da criança, seu tempo, sua integridade física e emocional, ajudam no desenvolvimento. Mas isso precisa ser feito e desenvolvido a partir de rigorosas normas técnicas de segurança, da utilização de EPIs, do treinamento específico para o profissional dominar as técnicas de segurança e controle de riscos, de biossegurança e prevenção de acidentes.
- A pesquisa: a realização de uma pesquisa de natureza interdisciplinar, envolvendo os profissionais da área da saúde para dimensionar o impacto da escalada no desenvolvimento das crianças atendidas é uma ação tão complexa, rigorosa e normativa quanto a primeira parte de nossa reflexão sobre a situação-problema levantada. Os protocolos e procedimentos demandam, por envolver seres humanos, que os pais e as crianças sejam submetidos, em forma de projeto de pesquisa, a um Conselho de Ética em Pesquisa que faz parte de um sistema nacional de pesquisa científica que garante a integridade e o respeito à eticidade nas pesquisas envolvendo seres humanos. A Clínica Multiprofissional poderia submeter o projeto na Plataforma Brasil, que designaria um Comitê de Ética para sua análise. Há todo um processo que deve ser rigorosamente cumprido para essa submissão. O respeito à vida humana e às pessoas envolvidas em pesquisa científica faz parte de um amplo debate histórico e, no Brasil, é regulamentado pelo Conselho Nacional de Saúde a partir do Sistema CEP/CONEP.
Avançando na prática
A Educação Física e a Covid-19
Após o primeiro caso de covid-19 ter sido notificado pela China no final de 2019, o mundo como um todo se viu em uma condição sanitária complexa de saúde coletiva. Órgãos internacionais, como a Organização Mundial de saúde (OMS), declararam em 2020 um problema de saúde pública internacional, e, em cada país, a partir de suas políticas, governos e sistemas de saúde, os enfrentamentos foram iniciados. Uma das medidas sobre o impacto e disseminação do vírus foi o distanciamento social, com o fechamento de escolas, comércio não essenciais etc. Espaços como academias, clubes, e complexos esportivos e de lazer de natureza pública e privado foram fechados temporariamente. A reflexão que se coloca, sem adotar uma perspectiva de resolução imediata, é como devemos nos preparar para a volta das atividades escolares, das academias, dos clubes, enfim, dos mais diversos espaços do mercado de trabalho da Educação Física?
O impacto da pandemia na Educação Física é algo que futuramente deve ser estudado. Muitos setores foram impactados de forma significativa, como as academias e clubes esportivos, a atuação do personal trainer, do professor de Educação Física escolar, dos recreadores em hotéis e resorts, enfim, desde o ponto de vista econômico até o do papel da Educação Física na sociedade. O trabalho em home office, exigindo cuidados e ações de biossegurança como a ergonomia, a criação de produtos para atender demandas diferenciadas, o conhecimento sobre os efeitos do exercício e da atividade física em pessoas infectadas que desenvolveram ou não os sintomas da doença: são muitas indagações que precisam ser abordadas pela comunidade científica e profissional da área em atuação multidisciplinar com outras áreas da saúde.
Como fato, o retorno às atividades exige que, durante muito tempo (devido a insegurança gerada), políticas e medidas de biossegurança deverão ser tomadas por instituições responsáveis, como também pelos órgãos representantes de classe. Pelo contato que a área muitas vezes proporcionou com seus alunos, clientes e beneficiários, será que o uso de máscaras e álcool em gel não deva ser uma medida de biossegurança e utilização de EPIs de forma perene?
Como profissionais da educação física, acima de aspectos ideológicos, políticos e religiosos, devemos nos orientar por uma ação ética, presente em uma área de formação profissional de natureza acadêmico-científica, com uma sólida base epistemológica constituída historicamente que orienta a formação e atuação profissional, tendo a ciência e o conhecimento científico como base de sua atuação na sociedade, visando a prevenção e determinação de medidas operacionais protetivas. São a racionalidade científica moderna, as políticas éticas de pesquisa e biossegurança, juntamente com as ações éticas e deontológicas da Educação Física, constantemente revisadas e refletidas, que nos darão uma maior segurança para a atuação profissional segura e exitosa.