Dimensão socioantropológica e dimensão biodinâmica 

Fonte: Shutterstock.

Deseja ouvir este material?

Áudio disponível no material digital.

Convite ao estudo

Prezado aluno, 
Você, que cursa Educação Física, deve ter se deparado, no decorrer do curso, com uma série de dúvidas nas diversas disciplinas que estudou, e com certeza você se defrontará com outras nas próximas que cursará.
O curso de Educação Física é muito extenso e já passou por uma série de modificações e adaptações desde que foi concebido, passando por todos períodos e fases de sua estruturação.
Houve momentos em que ele era uma formação denominada licenciatura plena, na qual o acadêmico, ao se formar, poderia atuar em vários setores, em ambiente escolar e não escolar. Posteriormente, passou por uma modificação: a formação para o ambiente escolar se reserva à licenciatura, e o bacharelado se destina à formação do profissional que atuará fora da escola (academias, clubes etc.). Mais recentemente, outras adaptações foram realizadas, e agora a Educação Física se estrutura da seguinte forma: núcleo comum, que engloba eixos de formação geral, de estudo da área e Etapa Específica; Licenciatura e Bacharelado em Educação Física, nas quais o aluno terá conhecimentos específicos do ambiente escolar e não escolar.
Diante do exposto, esta disciplina (Introdução à Educação Física) traz uma série de temas que, com certeza, vão contribuir bastante em seus conhecimentos e em sua formação profissional.
Os temas foram divididos em 4 unidades e 3 seções. Neste momento, vamos apresentar e discutir a Unidade 3, Seção 1. Nesta unidade, você poderá conhecer um tema muito importante e discutido na área, que são as características da profissão, além de outros contextos subdivididos na seção, direcionados à Dimensão socioantropológica e Dimensão biodinâmica, entre eles os conhecimentos antropológicos, históricos, filosóficos e sociológicos, e os aspectos bioquímicos, fisiológicos, morfológicos e biomecânicos na Educação Física.
Na Seção 2, você verá temas relacionados aos conhecimentos sobre aquisição de habilidades e fatores psicológicos intervenientes; aspectos motores do desenvolvimento humano; métodos e técnicas de estudo que fundamentam a intervenção profissional; e procedimentos éticos e pesquisa que fundamentam a intervenção profissional.
Na Seção 3, há os seguintes temas: áreas de intervenção do profissional de Educação Física; fundamentos de gerenciamento e organização de eventos; gestão de pessoal e marketing; e processos pedagógicos das atividades específicas.
Bem, aluno, você pode perceber que são temas distintos, mas que se unem quando existe a percepção de que um tema dá suporte ao outro em determinadas situações, sempre levando em consideração que as atividades desenvolvidas se sustentam, da teoria para prática.

Praticar para aprender

Nesta seção abordaremos temas que relacionam a profissão às dimensões socioantropológica e biodinâmica. Também discutiremos sobre os conhecimentos antropológicos, históricos, filosóficos e sociológicos, e os aspectos bioquímicos, fisiológicos, morfológicos e biomecânicos na Educação Física.
Caro aluno, é preciso que você compreenda que a profissão da Educação Física é muito vasta e vários segmentos podem ser desenvolvidos. Portanto, procure estudar cada tema, pois cada um deles, além de ser muito interessante e necessário, acrescentará em determinada área específica que você pretende atuar. Porém, lembre-se: a ideia central é de sempre procurar associar o que se discute na teoria com a prática.
Uma sugestão relevante é que você não se prenda a um único conteúdo e um determinado autor. Busque nas publicações do passado a origem histórica de determinado tema e constate o que de novo e atual é apresentado em publicações e pesquisas atualizadas. 
Nas primeiras reuniões em que Marina participou como coordenadora do Grupo de Estudos, ela selecionou alguns temas a serem discutidos em uma mesa redonda com os integrantes do grupo. Entre os assuntos, estavam as “Dimensões socioantropológica e biodinâmica da Educação Física”.
Marina então propôs aos participantes que eles se dividissem em grupos, cada um tratando sobre um subtópico relacionado ao tema central, discussões essas que seriam apresentadas nas próximas reuniões. Ela ficou responsável em iniciar a reunião abordando os aspectos socioantropológicos da Educação Física e, em seguida, seria a apresentação dos grupos.
O grupo 1 ficou responsável por apresentar o tema “A importância das características bioquímicas nos estudos da Educação Física”; o grupo 2, “A importância das características fisiológicas na Educação Física”; o 3, “As características morfológicas”; e, por fim, o grupo 4 se encarregou de abordar “A biomecânica”, temas que deveriam ser apresentados nas reuniões subsequentes.
Portanto, os temas apresentados e discutidos nesta seção servirão de conteúdo para Marina e os integrantes do grupo responderem em suas palestras: o que os conhecimentos antropológicos, históricos, filosóficos e sociológicos na Educação Física trazem de subsídio para a Educação Física e por que os aspectos bioquímicos, fisiológicos, morfológicos são tão importantes no desenvolvimento das atividades na Educação Física?
Nesta obra você vai receber contribuições muito importantes para área, haja visto o nome desta disciplina, Introdução à Educação Física. Você é nosso convidado: aproveite e seja bem-vindo. 

conceito-chave

A Educação Física sempre foi alvo de discussões e reflexões sobre seu conteúdo. Nesse sentido, enfatizar os aspectos antropológicos e históricos da Educação física nas discussões atreladas ao corpo e à motricidade parece ser essencial, já que no construto cultural de corpo, além da característica biológica, há também o caráter determinante do meio, a motricidade com a prática motora e a linguagem corporal. Assim, nossa intenção, nesta seção, é conhecer as dimensões socioantropológicas, históricas e biodinâmicas da Educação Física.

Conhecimentos socioantropológicos e históricos da Educação Física

Foi a partir da chegada, em 1808, da Corte Portuguesa ao Brasil que a Educação Física obteve um tratamento mais consistente. Saúde e educação receberam atenção especial devido ao princípio de que as elites seriam beneficiadas, e os movimentos corporais assistidos se tornariam aceitos como promotores da saúde física e mental. Foi assim que os colégios e escolas da época iniciaram a prática das ginásticas como conteúdos curriculares.
A Educação Física começou ser reconhecida como parte da formação dos brasileiros a partir de 1882, referendada por Rui Barbosa no momento da reforma da educação brasileira e do ensino básico, secundário e superior. Foi nessa época, quando vigorava a cultura do físico associado ao mental, que a Educação Física foi sugerida como obrigatória nas escolas, tanto masculinas quanto femininas, e se tornou como objeto de estudo acadêmico.
No Brasil República, a Educação Física nas escolas tinha como objetivo a formação militar, e, em 1930, a área foi destacada nas políticas públicas com o surgimento do Ministério da Educação e Cultura (MEC). Em 1934 é o primeiro curso civil da escola de Educação Física que depois se associa à Universidade de São Paulo (USP), sendo que, com o surgimento da Escola Nacional de Educação Física e Desportos, em 1939, passa ser inserida na Universidade Brasil, com grande avanço no campo das atividades físicas.
As modalidades desportivas como a natação, equitação e esgrima eram as mais praticadas no fim do século XIX, junto com o remo. No início do século XX, há a introdução de outros esportes, como o futebol, o tênis, e o basquete.
A Educação Física voltada ao rendimento desportivo passou a ser desenvolvida durante o regime militar, cujos governos investiram bastante na formação de atletas de modalidades competitivas de alto rendimento, o que resultou em uma visão tecnicista das atividades físicas.
Já nos anos 80, com a abertura política, a Educação Física passa por algumas transformações, e a concepção de um modelo mecanicista é alvo de questionamentos. A formação e desenvolvimento psicomotor inovaram a Educação Física com um olhar que abrange o social, o físico e o emocional, sendo levado em conta a aproximação formativa do estudante.
Na atualidade, abordagens diferenciadas multiplicam espaços e assumem o dever da Educação Física para com o crescimento integral do humano, se fortalecendo como instrumento de muita importância para o conhecimento, inserção social e exercício de direitos e deveres.
A profissão do educador físico foi regulamentada pelo presidente da república em 1998.

Aspectos antropológicos

A antropologia contribui para a Educação Física em estudos diversos, conforme o que se encontra em dissertações e em materiais utilizadas na formação de profissionais da área.
A corporeidade e a motricidade estão alicerçadas no pensar e legitimar o corpo. O organismo humano, nesse caso, não deve ser apenas um fenômeno da natureza observado pelo olhar metódico da ciência, segundo o qual o aparelho biológico é apenas um conglomerado de reações metabólicas mais ou menos bem-sucedidas.
O avanço nos estudos e experimentos biológicos, médicos e físico-químicos referentes ao corpo humano resultou em dados muito importantes na área da saúde, atividades corporais e estética. No entanto, ainda temos que refletir sobre questões associadas a outros aspectos corporais, como a beleza, o saber e o vigor como alicerces culturais. Senão pela ascendência dos tradicionais estudos antropológicos, que nos auxiliam para que olhemos a motricidade e corporeidade como corporações de uma cultura generalizada, que nos abastecem de indicativos e uma carência de revisão de concepções relativas ao tema.

Conhecimentos sociológicos e filosóficos na Educação Física

Quando se diz que a Educação Física é um fenômeno cultural, não se quer dizer que os dados biológicos não estão presentes ou não são importantes, mas que estes últimos não são suficientes para a compreensão, por exemplo, do esporte.
Alguns povos, como os europeus do Renascimento ou a população indígena brasileira da época, em suas práticas desportivas não constava o basquetebol ou futebol. No entanto, ao se analisar o ponto mecânico-fisiológico, poderiam pelo seu potencial, fazê-lo.
A aparição e ascendência do esporte é um fenômeno sociocultural importante, poder explicado pelos atributos intrínsecos (lúdicos e contraditório) atuante nas variadas modalidades esportivas, associados a conjuntura de industrialização e liberalismo da Europa (XIX) daí sendo multiplicado para o resto do mundo.

Conhecimentos sobre os aspectos bioquímicos e fisiológicos na Educação Física

A bioquímica

A importância da bioquímica deve ser entendida pelo acadêmico ou profissional de Educação Física porque suas teorias estão associadas aos movimentos corporais. Há uma reação característica que se manifesta com o corpo em descanso e outra que se sucede com a movimentação (atividades físicas relacionadas à saúde ou ao lazer, jogos desportivos e brincadeiras, danças e lutas). Tais reações se alicerçam em dois mecanismos geração de energia presentes nos músculos: o aeróbio, que é o mecanismo com a presença de oxigênio e as gorduras como fontes de energia; e o anaeróbio, sem a presença do oxigênio na produção do ATP (adenosina trifosfato), dividido em anaeróbio lático (que resulta em grande produção de ácido lático) e o alático (com pouca produção de ácido lático).
A bioquímica é uma ciência que caminha junto à Educação Física devido ao fato de que qualquer ação motora expressiva produz modificações químicas no organismo, que por sua vez modificam os marcadores bioquímicos pertencentes a tal ação.
Para que a abordagem sobre bioquímica seja aprofundada na Educação Física, são fundamentais mais pesquisas e estudos referentes à temática, especialmente sobre as capacidades motoras nas diversas fases da vida, pois parte dessas pessoas podem estar em algum ambiente (escolar ou não) onde ocorra uma aula de Educação Física ou algum tipo de atividade física.
Profissionais de Educação Física devem compreender que todas as substâncias orgânicas e inorgânicas são de suma importância na composição química das células do corpo humano e garantem o funcionamento das unidades operacionais dos seres vivos. Os seres vivos dispõem de moléculas determinantes para seu metabolismo e sua composição. 

A Fisiologia

O termo “fisiologia” origina-se do grego physis (funcionamento ou função) e logos (estudo). Neste sentido, ela é caracterizada como um braço da Biologia que tem como foco principal de estudo a multiplicidade de funções físicas, mecânicas e bioquímicas dos seres vivos. Conceitos da química e da física são utilizadas para explicitar como se dá o funcionamento dos diversos organismos e suas adequações frente aos estímulos do meio ambiente.
A fisiologia estuda os resultados crônicos e agudos do exercício físico sobre a organização e a funcionalidade dos variados sistemas orgânicos. A fisiologia do exercício pesquisa também a ligação entre diferentes resultados do exercício físico e o impacto dos estressores ambientais. Ela pode ser apontada como uma das disciplinas mais convencionais associadas à prática acadêmica e aos profissionais de Educação Física e do Esporte, o que demonstra a herança das ciências biológicas para a área.
O surgimento da Fisiologia do Exercício é confundido com a origem da Medicina e da prescrição do exercício físico com finalidade de tratamento de doenças e conservação da qualidade da saúde. No entanto, a fisiologia do exercício teve seu surgimento no final do século XIX, como área de relevância acadêmico-científica.

Incorporação com o campo profissional

Os saberes acadêmicos-científicos são primordiais na construção profissional apropriada e, fundamentalmente, para o fornecimento de um trabalho de qualidade para a sociedade. Nesse sentido, a associação entre a área do empenho do profissional de Educação Física e Esporte e o alcance de conhecimentos científicos devem ser apontadas como um período importante na etapa de formação dos futuros profissionais.
É importante destacar que os conhecimentos extraídos da Fisiologia do Exercício podem não ter sua aplicação diretamente em situações práticas na área, mas fornecem sustentação para o conhecimento aplicado, estruturado em áreas como: Treinamento Desportivo e a Atividade Física relacionado à Saúde. 
A bioquímica e a fisiologia, embora disciplinas distintas, muitas vezes caminham juntas, já que uma fornece dados para ser analisados pela outra, tanto em manifestações do corpo em repouso (estático) e as que se sucedem com movimentos (dinâmico), que são muito comuns na área da Educação Física.

Conhecimentos sobre os aspectos da morfologia e da biomecânica na Educação Física

A morfologia

A morfologia é uma área que estuda a forma dos seres vivos, ou pelo menos parte dela. Ela pode ser classificada em: anatomia (aspecto macroscópico) e histologia (aspecto microscópico). É um mecanismo fundamental para o reconhecimento e classificação das espécies. A exposição morfológica sustenta-se na análise das organizações presentes no corpo humano, o que dá direção às pesquisas das estruturas organizacionais dos organismos, proporcionando comparações e análises entre diferentes organizações das estruturas, ou seja, a anatomia comparativa.
A morfologia é o combinado da figura que a matéria pode tomar. A palavra morfologia, do grego morphe (forma) e logos (estudo). A morfologia, ou características morfológicas, está presente em diversas pesquisas e estudos, justamente por causa da importância de avaliação e análise do corpo humano ou parte dele. 

Aspectos Biomecânicos

A busca pela compreensão do movimento corporal humano é bem antiga. Obras clássicas de Aristóteles demonstram que a inspiração do homem em avaliar o movimento, partindo de conceitos físicos, é remotíssimo. Esse interesse milenar se traduziu em investigações mais profundas no decorrer dos séculos seguintes, como pode ser observado nos estudos de Borelli (século XVII) e Marey (século XIX).
O século XX foi um momento de avanços tecnológicos, que se estenderam para os métodos experimentais utilizados em diversos campos de atuação científica, englobando a Biomecânica, trazendo como resultados significativos progressos nas técnicas de medição, seleção, processamento e acúmulo de dados, processos que vieram a contribuir para o estudo e qualidade do movimento humano.

A Biomecânica

A biomecânica tem como foco principal o estudo do movimento humano. Ainda que seja um objetivo normal para as variadas áreas que constituem o conjunto de aprendizado da Educação Física e do Esporte, a área da Biomecânica direciona sua investigação desde uma perspectiva particular: a das leis da Física. Mais do que respeitar e executar as leis da Física, a Biomecânica considera as características do aparelho locomotor. Todavia, além da Matemática e da Física, disciplinas fundamentais que dão suporte à investigação do movimento humano, a Biomecânica ainda usa dos conhecimentos da Fisiologia e da Anatomia, disciplinas essas que determinam as organizações estruturais e funcionais do mecanismo locomotor humano. Ela caracteriza-se, portanto, como um saber multidisciplinar, cujo proposito central é a investigação dos parâmetros estruturais do movimento, em consequência das estruturas fisiológicas e anatômicas do corpo humano.
A investigação biomecânica do movimento se torna operacional a partir da implantação daquelas que são admitidas em quatro grandes áreas de estudo: a antropometria, a dinamometria, a eletromiografia e a cinemetria.
A Biomecânica investiga áreas diferenciadas relacionadas ao movimento humano e animal, compreendendo: aspectos funcionais dos músculos, ligamentos, tendões, ossos, cartilagens, cargas e sobrecargas das estruturações específicas, além de questões que interferem no desempenho.
No esporte, a biomecânica se desenvolve no estudo do corpo humano e das ações esportivas em relação às normas e princípios físico-mecânicos, incorporando os conhecimentos fisiológicos e anatômicos do corpo humano.
Os resultados das pesquisas no Brasil em Biomecânica influenciam diretamente outras áreas, como a medicina, a ergonomia, além da produção industrial de equipamentos esportivos e vários outros aspectos da vida do ser humano. Outra contribuição da área é o auxílio na produção de estudos para obtenção de inovações tecno-motoras, que tendem a considerar as características dos integrantes, sua estruturação e contexto, proporcionando uma efetiva aprendizagem.

Biomecânica e Cinesiologia

A Biomecânica e a Cinesiologia dividem o mesmo objeto de estudo, o movimento humano, mas o que as distingue são as perspectivas diferentes. Todavia, essas disciplinas acabam sendo complementares e muito importantes para a compreensão de cada momento do esporte. Por exemplo: em uma prescrição de exercícios, pode ser interessante distinguir quando e quais músculos são utilizados em cada atividade. Por outro lado, as alterações na utilização dos músculos que ocorre conforme a intensidade ou a característica dos exercícios base podem comprometer de maneira contundente uma tarefa do atleta. Em virtude disso, Biomecânica e Cinesiologia são consideradas importantíssimas para a compreensão minuciosa de como funcionam as articulações, suas estruturas e potencial de ação. A partir dessa fundamentação é que os profissionais associados ao esporte podem prescrever o conteúdo de treinamento ou estimar a carga de cada atividade.

Caro aluno, você pode ter observado que nesta seção os temas foram distribuídos de forma distinta, desde aspectos históricos, sociológicos e antropológicos da Educação Física, o que reflete concepções teóricas para o entendimento e compreensão na aplicação prática. Ainda sobre teoria e prática, podemos verificar que demais temas associados a conhecimentos morfológicos, bioquímicos, fisiológicos e biomecânicos serão sempre discutidos no contexto da estruturação, prescrição e controle das cargas no exercício físico.