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sem medo de errar
O campo do estágio e as experiências nele vivenciadas vão muito além dos saberes acadêmicos e profissionais. É um momento de contato com a realidade da profissão e a aplicabilidade real dos saberes aprendidos.
João Marcos, ao cumprir seu estágio numa equipe multidisciplinar dentro de uma Unidade Básica de Saúde, mais especificamente no Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), pôde vivenciar inúmeras situações do cotidiano profissional. Compreendeu que a ética vai muito além da dimensão teórica. É uma dimensão prática, e João Marcos pôde perceber isso na relação de responsabilidade que a equipe demonstrava no trabalho com seu público atendido. O respeito às histórias de vida das pessoas atendidas, bem como a busca pela qualidade nas ações que efetivamente impactam de modo positivo a vida das pessoas, demonstra uma ação ética e moral pelas pessoas atendidas e pela área de formação de cada um dos profissionais que compunham a equipe multidisciplinar.
A dimensão da bioética era percebida na relação com os seres humanos, com a integridade física e a escolha de cada atividade a ser desenvolvida pensando no bem-estar de todos. Às pessoas eram deixados claros os procedimentos e métodos adotados, os resultados esperados e a forma com que cada um poderia se envolver, sempre respeitando suas vontades e limites.
João Marcos compreendeu, também, e expôs isso de forma clara em sua apresentação de seminário, que há uma relação entre o profissional e o campo do Direito, na medida em que a responsabilidade civil era algo sempre debatido entre a equipe multidisciplinar. Exames periódicos eram realizados constantemente; toda mudança de medicamento por parte de algum participante era debatida para saber quais os riscos e os cuidados que deveriam tomar frente à prática da atividade física na promoção da saúde das pessoas.
Assim, João Marcos foi reconhecendo e exemplificando muitas das experiências vividas à luz das questões éticas, morais e legais que envolvem a atuação do profissional de educação física.
Avançando na prática
Educação Física escolar e a moral esportiva
Você atua como docente de Educação Física em uma escola pública da rede Estadual de sua cidade. Você trabalha com turmas do 8º e 9º ano do ensino fundamental II. Um grande desafio que você enfrenta em seu trabalho é a alta competitividade dos alunos, principalmente no conteúdo das modalidades esportivas mais tradicionais que possuem contato, como o handebol, o basquete e futsal. Você acaba de fazer a transição de modalidade/conteúdo, finalizou o handebol para as turmas de oitavo ano e vai começar com o basquetebol.
Na primeira aula você realiza um jogo como forma de avaliação diagnóstica, para saber o nível de conhecimento técnico, tático e de regras sobre o basquetebol. No entanto, você logo nota que os alunos estão cometendo muitas faltas por excesso de contato físico e discutindo entre si. Como você poderia abordar a dimensão dos valores morais no esporte como forma de trabalhar os aspectos comportamentais com os alunos?
A prática pedagógica do professor é algo intencional. Por mais que haja documentos orientadores – como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), um documento deliberativo que determina os conteúdos a serem trabalhados no contexto escolar –, há a subjetividade, a individualidade do professor no seu processo de ensino e aprendizado. Pode acontecer de, em uma mesma turma do mesmo ano escolar, os estudantes apreenderem conhecimentos diferentes quando professores diferentes trabalharem o mesmo conteúdo curricular. Um dos aspectos mais importantes do processo de construção da identidade docente é a dimensão dos valores morais.
A Escola é permeada pela ética, que atravessa a escolha dos conteúdos, a prática docente, os processos avaliativos, o clima e a gestão escolar. Toda escola é orientada por valores e normas sociais.
A didática vai muito além do ensino de conteúdo. Os saberes não são neutros, são conhecimentos existentes numa sociedade que comunga valores culturais comuns e que emana códigos éticos e morais. O esporte, por exemplo, como na situação problema descrita, é considerado um dos mais relevantes fenômenos da sociedade moderna. Em sua materialidade, valores são manifestados, seja em um grande jogo de futebol durante um campeonato importante, seja no jogo que realiza em sua aula ou na famosa disputa final do torneio interclasse. O ensino deve estar associado à educação moral dos educandos, e o esporte possibilita a análise e compreensão de muitos valores sociais: por que muitos têm o sonho de ser jogador de futebol? Qual o papel da escola na formação do jogador? Como pensar a violência e o racismo no esporte? Há uma divisão de classe social no esporte?
A partir da indagação anterior, você pode falar sobre a história do basquete, que foi criado para ser um esporte sem contato físico, ou que o contato físico no handebol e no basquete são diferentes, e que existe uma moral por trás dessas atitudes. Esse aspecto faz parte do conteúdo atitudinal, como respeito, honestidade, disciplina, cooperação. Você pode tanto mostrar cenas de violência no esporte quanto cenas de cooperação e solidariedade, a partir de pesquisas realizadas pelos alunos, abrindo o debate e a reflexão sobre o fenômeno esportivo e seus valores sociais.
Mas, e aquele aluno com atitude ‘fominha’ que nunca passa a bola, o que você faria???